Dia 14 de Fevereiro. 20% da população compra prendas para alguém, 35% faz de conta que não é nada com eles, 25% não tem a quem dar e o restante, porque no fundo acha que o outro não merece o trabalho, diz que é um dia como os todos os outros.
É um pouco estranho a pequena percentagem que realmente aacha que o outro, a relação que temos com alguém deve ser festejada. A desculpa do comercial ou da data ser uma coisa das lojas é fraca. A prenda é na maior parte das vezes simbólica, pois o que ela deve significar é “estou feliz de estar contigo” e não mais que isso.
Toda a gente procura alguém para compartilhar a vida. Homem, mulher sejam de facto ou de espirito, tem todos a vontade de terem alguém com quem possam partilhar o tudo e o nada que é a existência.
Há muitos anos atrás, estava a conversar com algumas amigas do que fazia as relações funcionarem. O porquê alguns casais se darem bem e os outros não. Para as raparigas era claro que era o facto de ambos se apaixonarem um pelo outro que fazia a diferença. Eu evidentemente concordava, embora nessa altura estivesse mais que convencido que o bom sexo, contribuia grandemente para essa estabilidade. Na altura não extravasei essas opiniões, porque sexo em conversa com raparigas era sinal de grosseria. Portanto concordavamos todos que era a paixão essa cola que unia casais. Com essa questão arrumada passamos a como a paixão surgia. Surgia da amizade pura entre eles, das suas coisas comuns, das suas coisas diferentes, dum fogo no olhar, dum brilho de sol no refletido no cabelo...
Foi quando lá de detrás a avó duma disse alto e bom som:
-Isso da paixão é só para os novos como vocês! Qunado crescerem vão perceber que não é precisa para nada! O casamento não é fundado na paixão! Aliás isso é um empedecilho! As relações estáveis eram criados após o casamento, com base no respeito mútuo e na compreensão entre o casal!
É claro que aquela conversa ficou por ali! As raparigas ainda disseram:
-Oh Avó como pode dizer isso!
Mas mais como um ligeiro protesto, não como a defesa da não validade da afirmação.
Para mim era claro que a senhora não tinha razão. Basicamente porque não havia sexo, o qual só iria acontecer após a fase do casamento. O que evidentemente era um absurdo!
Hoje estava a ouvir uma discussão desse género quando me relembrei disto.
No tempo da avó, homens e mulheres (mais as mulheres, evidentemente) namoravam às escondidas e raramente se conheciam. Os homens portavam-se sempre como cavalheiros, abriam as portas, tratavam a mâe por senhora Dona, diziam sempre se faz favor e muito obrigado. As mulheres sorriam candidamente, davam as pontas dos dedos para subirem os degraus e baixavam pudicamnete os olhos. Só depois de casarem é que se descobria que o marido, era um bebâdo inveterado, que raramente lavava os pés e que tinha várias familias de parentes de pulgas nos sitios mais privados; e que a mulher partia loiça com a voz quando se irritava e que a sua visão da vida de casal era ela, o marido e a mãe. Era compreensivel que os casais não se dessem, não se entendessem, que basicamente passassem dezenas de anos de costas voltadas, sentindo-se miseráveis e infelizes durante todo esse tempo.
Mas nos dias de hoje, namora-se, partilha-se, ama-se, vive-se junto. Porque é que ainda os casais não se dão, não se entendem, basicamente passem dezenas de anos de costas voltadas, sentindo-se miseráveis e infelizes durante todo esse tempo?
Compreendo que alguns homens e algumas mulheres sejam manipulativos, dissimulados, vocacionados para o engano e para o embuste. O que é para mim estranho é o número de casais onde isso ocorre. O que é para mim estranho é que, do mesmo modo que como no tempo da avozinha, ainda seja dificil conhecer o outro, e que só depois de casados, juntos, etc, apareçam todas aquelas coisas que transformam relacionamentos em infernos, e amor em ódio profundo.
cada um mergulha no inferno da sua escolha...
ReplyDeleteNuma época em que o conceito solidão tem mostras concretas das suas faces, parece-me que muitas dessas situações surgem com o medo de enfrentar o referido "bicho". Ainda há pouco ouvi a seguinte frase: "Prefiro ser maltratada a estar sozinha".
ReplyDeleteEstá tudo dito!
A vida tem dessas fugas para a frente quando se está ao pé do precipicio. A questão é sempre a mesma. Um minuto vivido em infelicidade total pode ser encarado como perdido ou como um minuto a menos no tempo que falta viver.
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