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Saturday, February 26, 2011
Writer's Block
Nos últimos 4 dias não consegui escrever nada de jeito.
Aparentemente estou a caminho de ser um escritor. Já tenho “Writer’s block”.
O “write’s block” na Tv consiste em escritores sentados, ou em computadores ou junto a máquinas de escrever a olhar fixamente, ou para o blimp dum cursor, ou para um papel em branco. Noutros casos o papel/ecran não está completamente branco. Têm ou um titulo ou já têm uma primerira linha escrita. Normalmente do tipo:
- Era uma noite fria de Outono.....
Ou
- Foi numa noite quente de verão....
Ou
- Estava sentado numa esplanada quando, surgida do nada, apareceu....
No meu caso foi a segunda opção que surgiu.
Tive várias primeiras linhas:
Uma foi:
“Hoje vim um homem a passear um cão...”
Outra foi:
“Hoje vim um avião no ar...”
Houve também:
“Hoje vim alguém a passar a ferro.”
E finalmente houve
“Há muitos anos atrás havia um a formiga, uma cigarra, um homem e um canguru....”
No meu caso também a página branca não existia. As diversas linhas originaram:
A primeira 2 histórias, a segunda outras 2, a terceira uma e a quarta outra.
Seis histórias que neste momento estão arrumadas no meu computador, mas todas elas inacabadas.
O que é estranho no meu “Writer’s Block” não é a falta de palavras para acompanhar as ideias iniciais. No meu o que falha é o encandeamento.
Normalmente as minhas histórias, a partir dum certo ponto, passam a ter vida própria e escrevem-se a elas próprias. Eu só as coloco no computador.
Nestes 4 dias aconteceu o mesmo, só que a direcção que cada uma tomava não era aquela que inicialmente eu pretendia. Isto é eu começava com uma ideia e quando dava por isso a história decidia ir nouta direcção.
Como tenho de acordar cedo para ir trabalhar, o limite de tempo para que cada história esteja pronta para ser publicada é a 1;00 da manhã. Como nenhuma conseguiu atingir esse limite, foram ficando na gaveta.
Hoje cá estou outra vez ainiciar uma história, mas desta vez vou deixá-la correr até ao fim e ver o que sai.
O “Writers block” é um velho conhecido. Não na escrita, mas em várias outras coisas. Nestas alturas tem outros nomes. “Juizo block”, “ Sensibilidade block”.. etc.
Estes block’s passam a vida a acontecer-me.
Basicamnte começo a fazer algo com uma intenção, mas depois parece que a coisa gnha vida própria e acaba numa direcção completamente oposta.
Vamos a um exemplo.
Há muitos anos, tinha todos os dias de apanhar um comboio para poder ir ao Liceu.
Esse comboio, ao chegar à estação, e antes de parar passava por um portão que era a saida que dava directamente para a rua do Liceu. Passava por lá mas ia parar cerca de 10 metros mais à frente.
Gajos do Liceu são como a gente sabe chicos espertos, desafiantes de todas as regras de bom senso.
Portanto ao longo de meses foi treinando a saída em andamento dos comboios, tentando-a elevar a uma arte. Ao fim de algum tempo era especialista.
O truque está em apontarmos para a direcção do movimento, descermos ao último degrau, agarrarmos ao corrimão da porta e lançarmos com toda aforça para trás e para fora. Sò podemos bater com um dos pés no chão e alongamos a passada o máximo que podemos até bater com o outro, nessa altura inclina-se o tronco para trás. Ao fim de 3 passadas para frente podemos andar normalmente e mesmo parar se quisermos.
Ao lancarmos para fora e para trás abandonamos e contrapomos a inércia provocada pelo movimento do comboio. Desta forma compensa-se já parcialmente a velocidade, o restante é eliminado pelo inclinar do tronco e pelas passadas finais. Normalmente 2, 3 passos são suficientes.
Outro dos truques é analisar a velocidade do comboio. Existe um limite imposto pelo primeiro imapcto com o solo, e a passada. Se o impacto for muito a perna cede e portanto a passada seguinte será pequena, como a perna já está flectida o tamanho das passadas a seguir a essa é também mais pequeno. No limite pode-se provocar entorses ou uma corrida à Speedy Gonzalez a qual não é cool. Cool era fazer a coisa com 3 passos ou menos.
A coisa sempre correu bem e era giro ver pelo canto do olho a cara das pessoas quando se saia a voar do comboio, um misto de incredubilidade e de reprovação. Excelente para o ego dum gajo na puberdade.
Hoje não vou discutir o acto em si. Vou no entanto agora colocá-la no contexto da história de hoje.
O contexto hoje é coisas que se começam duma maneira e ganham vida própria com desfechos diferentes dos planeados originalmente.
Bom, um dia vinha num comboio e durante a viagem entrou uma das raparigas que eu achava ineressante na altura.
Já a conhecia, e conversámos durante toda a viagem. A certo ponto da conversa entrou o cinema e os filmes interessantes que estavam em exibição.
Para quem não saiba, na altura, quando se queria sair com alguém a única coisa que se podia fazer numa fase inicial era ir ao cinema. Meter o cinema ao barulho durante uma conversa com uma rapariga era uma fase obrigatória quando se queria fazer mais qualquer coisa para além de conversar em comboios.
Com o cinema metido à conversa. Nós os dois passámos à fase de quais os filmes que ela queria ver, aqueles que ela não tinha com quem ir.
È evidente que ir ao cinama com alguém e as amigas é um convite à desgraça. Para além de agradarmos a ela, temos que agradar às amigas, mas sem que agrademos de mais a elas. Por outro lado o uso da obscuridade da sla de cinema fica grandemente reduzido.
Sabendo quais os filmes que ela potencialmente queria ver, independemente das amigas permitia passar à fase seguinte que era colocar a ideia de eu tinha a mesma vontade de ver o mesmo filme.
Nesta altura dependente da reaçção podemos finalmente considerar colocar ou não o convite.
Nessa altura, uma rapariga e um rapaz irem ao cinema juntos ficava a um passo de namorar.
Pelo que a resposta ao convite, incluia sempre uma fase do “Nâo” ,”Talvez”, “ Vou tentar”. Os “Sim” à primeira eram raros e estavam muito dependentes da parte introdutória.
A fase do “Nâo” ,”Talvez”, “ Vou tentar” podia ser mais ou menos longa. Isto porque embora conversa fosse relativa ao filme ou ao cinema em global, a verdade é que o que se estava ali a discutir era o possivel e provável relacionamento entre 2 pessoas. Era sempre uma conversa que requeria tempo.
Bom portanto lá estou eu e ela, já conversámos de cinemas, filmes e filemes que gostaria de ver, mas acho que não tenho com quem ir e lanço a questão do se calhar podemos ir juntos. Ela reponde com o “ Se calhar podemos” .
Bandeira verde penso eu. Podemos passar ao convite.
Mas neese momento o comboio começou a entrar na estação aonde eu ia sair.
Assim caso entrassemos na fase do “Nâo” ,”Talvez”, “ Vou tentar” , era claro que não ia haver tempo para resolvê-la duma forma correcta. Ela também podia dizer “ Sim”, mas e ela o não fizesse. Pesei a questão durante uns momentos e finalmente preferi perguntar em que comboio é que ela ia voltar, disse-lhe que também voltava nesse e combinámos a carruagem para fazermos a viagem juntos.
Disse que ia sair ali e levantei-me. Ela disse que saia na estação a seguir, e fomos os 2 até à plataforma das portas.
Quando ela se levantou e veio comigo, fiquei com a certeza que se escolhesse o filme certo, iamos mesmo sair juntos. Como resultado comecei a andar num colchão de ar, e tudo à minha volta era lindo e maravilhoso, o comboio é maravilhoso, o revisor era maravilhoso, os outros passageiros eram maravilhosos, a estação era maravilhosa, o dia era maravilhoso.
Despedi-me dela, disse-lhe até logo, vim para a porta, desci o degrau, e naquele momento, por entre o quão maravilhoso era o mundo, e o colchão de ar em que eu andava, decidi que o que havia a fazer era o showoff do salto acrobático do comboio.
Então lá estou eu no degrau, olho para ela, digo-lhe adeus, pisco-lhe o olho e vrumm. Lanço-me para fora e para trás.
Se bem se recordam o truque está em apontar para o sentido de andamento do comboio, de modo a que com o salto para trás diminua a inércia inicial.
O problema foi que ao dizer adeus e ao piscar o olho, me agarrei ao corrimão errado. Pelo que quando me lançei em vez de estar apontado para a frente estava apontado para trás. Quando saltei em vez de diminuir a inércia, aumentei a velocidade inicial.
Uma décima de segundo após me ter lançado apercebi-me do que tinha feito, mas já era tarde e tive só tempo de me agarrar com toda força ao corrimão. Com todo o corpo lançado em voo, e como o corrimão era liso, as mãos foram deslizando pelo corrimão até ao local onde se prendia à porta. Enquanto escorregava ainda consegui olhar para a rapariga ver o ar entre incrédulo, assustado e desaprovador que lhe passava pelo rosto.
Como estava suspenso pelo suporte do corrimão, caí de rabo na plataforma e lá foi arrastado. Agarrado ao corrimão, cabeça ao nivel do degrau, rabo no chão, pernas a cair para a linha, sapatos a voar.
À minha volta ouvia os gritos, de dentro do comboio, da estação a gritar, o silvo do apito do chefe da estação, os travões a chiar, quando alguém activou a paragem de emergência o barulho do ar comprimido a activar os travões. Eu com o rabo a começar a a ficar quente, a tentar levantar os pés para não bater nas traves da linha com um sucesso muito relativo.
Finalmente o comboio lá parou. Eu larguei-me do corrimão e subi à plataforma.
Todo o comboio com cabeças a assomar às janelas a olhar para mim, a rapariga branca agarrada ao varão a olhar para mim, toda as pessoas da estação aos gritos de ficou sem as pernas, caiu do comboio, o revisor a perguntar se estava bem e a perguntar se eu tinha escorregado, o chefe da estação a correr para mim. Todo o foco do local estava em mim. De repente lembrei-me que não tinha sapatos e disse ao revisor que me amparava pelo braço, que ia buscá-los. Ele ainda esboçou um protesto mas lá me larguou. Eu dirigi-me ao longo do comboio a coxear, desci à linha, agarrei os sapatos, calcei-os e fugi o mais depressa que podia.
Ao subir à outra plataforma diminui a velocidade para um coxear rápido, enquanto me desviava das outras pessoas em direcção à saida. Ao passar por elas ouvia-as a comentar entre elas que alguém tinha caido e que se calhar tinha ficado sem pernas. Todos os olhares virados para o comboio do qual tinha saido. Eu nem sequer olhei para trás, sempre à espera que alguém me parasse e me responsabilizasse pela paragem do comboio, pelouso do sinal de emergência, por toda aquela comoção. Quando finalmente sai da estação parei no primeiro lugar mais recatado que encontrei e dei uma vista de olhos ao meu estado. Casaco queimado pelo atrito, calças rotas, sapatos rotos no calcanhar, equimoses e escoriações várias. Tornozelo dorido. Tinha tido sorte.
Escusado é dizer que não voltei no comboio que ela ia apanhar. Mais, a partir dai, evitei durante meses a carrugem que eu sabia que ela apanhava. Quando a via ao longe enterrava-me no banco, num livro, atrás de alguém, só nunca me enterrei debaixo dos bancos porque nunca foi preciso. Só falei com ela muitos anos depois e básicamente foi um Olá.
Foi algo que começou duma maneira, ganhou vida própria e acabou duma forma muito diferente daquela que se estava à espera.
Este é o meu “writer’s block”.
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